martes, 10 de enero de 2012

O CAMINHO DO PRAZER CONSCIENTE

O CAMINHO DO PRAZER CONSCIENTE

O CAMINHO DO PRAZER CONSCIENTE
A maioria das pessoas  tem ainda uma idéia de que desenvolver o sexo tântrico significa nos distanciarmos do prazer e do erotismo. Porém nada poderia ser mais equivocado do que essa percepção, que já no século XV o mestre Zen japonês Ikkyu Sojun, cujas idéias e poesia inspiraram o livro Sexo Zen - O caminho da plenitude, de Philip Toshio Sudo. 
Aquilo que é hoje conhecido como o Caminho da Penetração nos chega através do ditado zen “Penetre atraves da forma, depois saia da forma”. Há diversos sentidos para esse ditado.
Em um desses sentidos, o ditado descreve o caminho da arte. Sempre que você for fazer alguma coisa nova, seja pintura, culinária ou as artes do sexo, aprenda primeiro o básico. Você não precisa saber tudo de uma vez. Comece dando pequenos passos e siga daí. Depois de ter assimilado as regras de uma forma de arte, você pode “sair da forma” e criar sua expressão pessoal.
No sexo, muitas pessoas começam atraves da masturbação. Antes de fazermos sexo com um parceiro, fazemos com nós mesmos. A masturbação nos introduz aos prazeres do orgasmo e à sensibilidade de nossos órgãos sexuais. Ela nos prepara para o mundo mais complexo das relações sexuais. Uma virgem que se masturba é capaz de ter centenas de orgasmos antes de fazer sexo com um parceiro, e assim pode ficar mais à vontade sexualmente do que aquela que nunca se masturbou. Para Ikkyu, a masturbação oferece a mesma oportunidade de revelação que o próprio sexo.

O que Flui da Essência

Para desenvolver nossa arte na cama podemos recorrer a manuais e vídeos sobre sexo, a terapêutas especialistas, seguindo a forma dos outros, experimentando diferentes posições e técnicas. O objetivo, contudo, é nos tornarmos tão bons nas técnicas que sejamos capazes de transcender as formas e padrões para fazermos, simplesmente, o que flui de nossa essência e, por isso, é natural. Esqueça todas as informações, diz Ikkyu, e concentre-se na essência:
Todos os dias sacerdotes examinam minuciosamente o Dharma (ensinamentos zen).
E entoam incessantemente sutras (ditos) complicados.
Antes de fazerem isso deveriam aprender
A ler cartas de amor enviadas pelo vento e pela chuva,
Pela neve e pela lua.
De forma sucinta, ele diz:
Não hesite, faça sexo, isso é sabedoria.
Ficar sentado entoando, que tolice.

O mundo do corpo.

O corpo possui uma sabedoria própria. Atraves da prática das formas desenvolvemos esta sabedoria, da mesma maneira que os dançarinos e os atletas desenvolvem a memória muscular, até o dia em que simplesmente confiam na sabedoria do corpo e dançam sem pensar. O pensamento só atrapalha a sabedoria do corpo.
Todos nós nascemos dentro de um corpo e ao longo da vida aprendemos a usar e a habitar esse corpo, descobrindo o que lhe dá prazer e como ele se combina com outro corpo. O Caminho da Penetração nos lembra que no nível mais fundamental, é assim que “penetramos através da forma”: na forma de um corpo humano. Nós “saimos da forma” quando o corpo morre e nosso espírito é libertado, ou atraves de uma realização transcendental, que tanto pode ser uma meditação quanto uma relação sexual com a pessoa que amamos.

Direto à Fonte

Lembre-se que da mesma maneira que entramos no mundo dentro de um corpo também entramos no mundo atraves de um corpo, que é o corpo de nossa mãe. A vagina que é penetrada durante o sexo é a mesma abertura pela qual a vida entra no mundo. O ponto de entrada, portanto é o ponto de saída e o ponto de todo o começo.
Deixe que o momento da penetração – quando uma pessoas penetra fisicamente a outra – leve você de volta a mentalidade de um principiante no zen e também as origens do seu corpo. Tome cuidado para não se perder. Atraves do Caminho da Penetração, prossiga direto para a fonte.

O Caminho da Aceitação

Uma oração popular entre dependentes de drogas que estão em tratamento é a “Oração da Serenidade”: Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso mudar e a sabedoria para saber a diferença.
Há muito de Zen nisso.
O Caminho da Aceitação consiste em aceitar essas coisas que não podem ser mudadas, não com resignação, mas com alegria. As principais destas coisas são:
A vida.
Nós mesmos.
Nossos corpos.
O corpo do nosso parceiro.
O que esses corpos se tornarão.
Com dieta, exercícios e cirurgia podemos mudar a aparência do nosso corpo, mas não podemos mudar o fato de que, enquanto vivermos, habitaremos esse corpo, e ele vai envelhecer. O Caminho da Aceitação é conviver com esses fatos, é ser capaz de se olhar no espelho em qualquer idade e se ver com alegria.
Manifestações da Divindade
O mestre zen Hotei certa vez ensinou este Caminho da Aceitação sem proferir uma única palavra, usando apenas a sacola de linho que carregava sempre. Uma pessoa perguntou-lhe: “Qual é o significado do zen?” Ele deixou cair a sacola ruidosamente como resposta.

A pessoa continuou: “Então, qual é a realização do zen?” Hotei colocou novamente a sacola no ombro e seguiu seu caminho. Atraves de sua ação refinada, a primeira resposta de Hotei  significava: “O que é, é.” Aceite-o. Você deixa cair uma sacola. Primeiro a sacola estava sobre  seu ombro, agora está no chão. O tempo não para. Aquele momento não se repetirá jamais. A Terra gira em seu eixo e órbita em torno do Sol. Ficamos mais velhos a cada minuto. E m algum lugar alguém está fazendo amor. Em outro lugar há pessoas em guerra. Alguém está nascendo, alguém está morrendo. Todas essas coisa são manifestações da força divina que energiza o universo. Esta é a verdade subjacente a cada ação e a cada coisa.

Participando da Vida

A segunda resposta de Hotei nos diz como viver dentro dessa verdade. Pegue sua sacola e vá cuidar de sua vida. Participe da vida cotidiana.
Muitas pessoas confundem a atitude de aceitação com fatalismo: “O que será, será. Não há nada que eu possa fazer a respeito”. Este pensamento nos paralisa. A vida é dinâmica e mutável. Portanto, para nos ajustarmos completamente a ela, devemos também ser dinâmicos e mutáveis.
O Caminho da Aceitação consiste não em receber a vida como ela se apresenta, mas em tomar posse dela. Como Hotei, pegue sua sacola e siga adiante. O que poderia ser mais trivial? No caminho do zen, essa aceitação representa um milagre: o milagre de estar vivo.
À medida que aprendemos a aceitar a vida como ela se apresenta também aprendemos o significado de dois conceitos centrais do zen: imperfeição e impermanência
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Imperfeição

No pensamento zen, a vida é perfeitamente imperfeita. Como o sexo, ela é desordenada, complicada, divertida, confusa e, em última instância, um milagre. Com todas as suas confusões, é assim que a vida deve ser. Mesmo quando percebemos as imperfeições dos seres humanos, compreendemos que, num nível divino, tudo é perfeito exatamente do jeito que é.
Através do sexo zen, trazemos a mesma atitude para os nossos relacionamentos. As pessoas são do jeito que são. Podemos encorajá-las a mudar seu comportamento, mas, no final, só elas próprias podem se modificar. Somos nós que devemos tentar mudar por dentro e aprender a viver com as “imperfeições” dos outros.
Nossos meios de comunicação nos enchem de imagens de pessoas lindas com vidas tão maravilhosas que nossa própria vida parece medíocre. Sem a menor lógica, nos avaliamos e avaliamos as pessoas de quem gostamos com base em um padrão impossível. Mas os japoneses tem um ditado, Meiba ni kuse ari: “Até mesmo o cavalo famoso fede. “Você pode ficar imaginando como sua vida seria melhor se pudesse se casar com uma estrela de cinema ou dormir com uma supermodelo, mas seus sonhos negam a realidade: mesmo as pessoas famosas acordam com mau hálito pela manhã e tem seus problemas na cama
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A Beleza Inerente

A mente zen sabe como ver a beleza nas imperfeições da vida. Se todas as coisas nos remetem ao divino, então todas as coisas tem uma beleza inerente. Ver ou não essa beleza vai depender do nosso nível de percepção. Se formos capazes de atingir uma harmonia atraves do zen, poderemos, entender o que os mestres querem dizer com: “É possível extrair beleza da feiúra.” Penetre na essência de uma coisa e você verá o esplendor em sua fonte.
A partir do momento em que aprendemos a ver esse esplendor interior, grande parte da nossa infelicidade desaparece. Somos capazes de superar as inibições com nossa aparência ou com a de nossos parceiros. Em vez de pensarmos nas imperfeições, nos sentimos bem na nossa pele. Reconhecemos que nosso corpo é um mero veículo do espírito e compreendemos que, apesar de todas as imperfeições da embalagem, a essência dessa embalagem é perfeita e divina. Não nos identificamos com a superfície do ser, mas com a energia sexual em seu interior.
Assim sendo, dois amantes imperfeitos fazem um amor perfeito.

Impermanência

Inevitavelmente, o corpo irá morrer. Mas enquanto você estiver habitando um corpo, viva com alegria. O Caminho da Aceitação não é aceitar a morte, mas aceitar a vida.
Numa única relação sexual podemos transcender os limites do corpo físico e perceber a realidade divina no momento presente. O que poderia fazer uma pessoa se sentir mais viva?
Nosso impulso natural é temer a ameaça da morte de nosso corpo. Os mestres zen chamam esse medo de “apego ao pó” – o pó material da vida. Você não levará nada deste mundo material quando morrer, nem seu corpo, nem seu dinheiro ou suas posses. Tudo se transforma, das cinzas às cinzas, do pó á pó. Precisamos aprender a aceitar isso e , atraves do zen, penetrar na verdade maior da nossa existência. Num ensaio denominado Esqueletos, Ikkyu escreve:
Nós somos esqueletos cobertos de pele, macho e fêmea, e desejamos uns aos outros. Quando o sopro se extingue, porém, a pele se rompe, o sexo desaparece e nãi há mais alto ou baixo. Sob a pele da pessoa que tocamos q acariciamos não há nada agora além de um punhado de ossos. Pense sobre isso – alto e baixo, jovem e velho, macho e fêmea, todos iguais…
O mundo é assim. Aqueles que não compreendem a impermanência do mundo ficam pasmos e aterrorizados com essa mudança…Liberte-se da formae retorne ao território original do ser.

Como o Fogo

Nós nos libertamos da forma através do sexo, usando o corpo para transcender sua própria impermanência. Conseguimos ver nossa essência não como o corpo que contém nossa energia sexual, mas com a própria energia sexual, que é eterna. Nossa essência é como fogo. Muitas vezes acreditamos erroneamente ser a vela.
No nosso coração sabemos que uma expressão plena do amor, aquela que emana da fonte da vida, se mantém muito tempo depois que o corpo se foi. Quando o mestre zen Ryokan expressou seu amor pela monja Teishin, jurou amor eterno:

Se o teu coração
Permanecer inalterado,
Estaremos unidos tão fortemente
Quanto uma parreira sem fim
Por anos e anos.

Enrosque-se com a pessoa amada como uma parreira sem fim. Aceitem um ao outro nesse momento e retornem ao território original de seu ser.
Aí se encontra a serenidade.
Aí se encontra o amor.

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